A proliferação da rede de centros de formações técnico-profissionais intensivos de cursos de saúde, com a cumplicidade dos institutos técnicos médios de saúde na emissão de certificados e carteira profissional, preocupa profissionais do sector que denunciam a banalização do ensino técnico de saúde em Angola sob olhar de mercador do Ministério da Saúde.
Por Geraldo José Letras
Em todo o país cresce em ritmo de cogumelos centros de formação técnico-profissionais que ministram cursos de nível técnico médio intensivo nas áreas de enfermagem, farmácia, análises clínicas, fisioterapia e outras. Para a emissão de certificados e carteira profissional aos seus estudantes, os gestores desses centros estabelecem parceria com os institutos técnicos médios de saúde mediante pagamento de um valor não inferior a 10.000.00 (dez mil) kwanzas.
Entre os estudantes que acorrem a esses centros, em maioria são cidadãos com dificuldades em se estabelecerem no mercado de trabalho devido a formação inicial no ensino pré-universitário (PUNIV), que segundo desdenharam à reportagem do Folha 8 “não nos serve para os desafios pela busca de emprego. Autêntica perda de tempo! E o governo já devia perceber que é no ensino técnico que devemos apostar”. Por frustração em caso de reprovação no ensino técnico médio de saúde, outros cidadãos procuram os centros de formação técnico-profissionais de saúde intensivo para terminarem em pouco tempo o ensino médio.
“Eu terminei o curso médio de Ciências Económicas e Jurídicas e estou a ter muitas dificuldades, com 32 anos para conseguir emprego, por essa razão optei por, a conselho das amigas e familiares, fazer um curso técnico médio intensivo de farmácia”, desabafou Paula de Sousa.
Os institutos técnicos médios de saúde, arrolados na “rede ilegal de facilitação na emissão de carteiras profissionais e certificados para os centros de formação técnico-profissional médio intensivo, são principalmente os do ensino privado espalhados pelos bairros das periferias provinciais”, denunciam profissionais da saúde também ligados a docência e gestão escolar.
Para o sub-director pedagógico do Instituto Técnico Médio Privado de Saúde, Maria Augusto (ITPS-MA), Adriano Kalivulu, a permissibilidade do Ministério da Saúde a proliferação de centros de formação técnico-profissionais em cursos técnicos médios intensivos de saúde atrapalha a qualificação profissional dos quadros do sector ao nível que se exige.
“A formação de profissionais das áreas de saúde obedece a uma grelha curricular. Por tanto, os centros de formação intensiva não obedecem a esse programa. Eles focam-se mais na componente prática, porém negligenciam as competências socioculturais e científicas dos estudantes. Um profissional de Enfermagem, Farmácia e outros têm de ter solidificadas as três competências: científica, técnica e sociocultural” asseverou.
“Quem só domina a técnica, diríamos o saber fazer, que só não basta, estaríamos pôr no mercado de trabalho um profissional que sabe dar injecção, mas desconhece o processo biológico da própria vida. Não terá competência científica, o que é complicado para termos um profissional a administrar oxigénio, mas não conhecer o próprio oxigénio”, criticou o também técnico de enfermagem.
A situação já é de domínio do Ministério da Saúde que garante ter em carteira um programa de inspecção para encerrar os centros de formação técnico-profissionais de cursos intensivos médios técnicos que não obedecem ao normativo do ministério que, inicialmente, autorizou a existência de centros para a capacitação contínua dos profissionais do sector da saúde e não para a formação inicial de cidadãos. A garantia vem de fonte do Ministério da Saúde ao Folha 8 sem avançar mais dados.